quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Reflexão acerca do "Guitar Hero" e do "Air Guitar"

A guitarra... ah, a guitarra... um instrumento músical tão mágico (tal como muitos outros) e que tantas experiências proporcionou ao mundo e aos amantes da música. Um instrumento que criou tantas memórias, estrelas, momentos agradáveis e, simultaniamente, históricos...
A guitarra e os seus diversos conteúdos estão, nos dias de hoje, a ser denegridos e escorraçados devido a imitações "baratas" e humilhantes, criadas por feras movidas a dinheiro e imitadores movidos a reputação. Estas imitações tratam-se, como indica o título deste post, do famoso "Guitar Hero" e da ascendente modalidade conhecida por "Air Guitar".
Haverá algo de guitarra nestas imitações? Se há, as parecenças são tão poucas e tão fracas que apenas conseguem dar um título ao projecto.
Neste artigo vou falar-vos do "Guitar Hero" e do "Air Guitar", a fim de vos fazer reflectir sobre estes assuntos nos quais poucos parecem pensar.
Comecemos pelo "Guitar Hero":


O "Guitar Hero" já é conhecido por todos. Toda a gente sabe de que se trata este vídeo-jogo com imensa fama entre os jovens. De facto, existem várias versões e jogos parecidos como o "Rock Band" e o mais recente "DJ Hero" (que, como o nome indica, não envolve, certamente, uma guitarra, mas sim a imitação de uma mesa de mistura). O jogo consiste em "tocar guitarra" numa guitarra de plástico com uma barra (que deveriam ser as cordas...) e cinco fret-buttons coloridos (que deveriam ser os trantes da guitarra...). O que será que tem este jogo de guitarra? Pouquíssimo. É uma imitação pura e simplíssima do verdadeiro instrumento músical.
Os jovens (até da minha idade...) mais depressa ganham gosto por este jogo do que por uma guitarra a sério, quer seja ela acústica, eléctrica, de 12 cordas, etc. E quando lhes perguntamos se sabem tocar guitarra, eles respondem sempre algo como: "Guitarra a sério, não, mas toco no Guitar Hero. E em expert!". Como disse Nick Mason, baterista dos Pink Floyd: "...se eles passassem tanto tempo a praticar guitarra quanto o que passam a aprender a pressionar os botões seriam bastante bons neste momento”. Será preciso recordar a estes miúdos que se ninguém tocar guitarra a sério, ninguém vai fazer música para eles terem no jogo? Mas temos muita gente a dizer: "O Guitar Hero é muito mais dificil que uma guitarra a sério. Tocar numa guitarra a sério é canja, mas isto não. Isto é bem mais complicado, e sinto-me muito orgulhoso por conseguir tocar em Expert, que é o nível mais dificil!".
O problema é que, para as productoras e editoras há que vender música, pois para elas, é um negócio como qualquer outro. O importante é adquirir o máximo de lucro possível. Trata-se de fabricar e vender. E a música (bem como a pintura, o teatro e tantas outras artes) deveria ter objectivos mais prioritários em relação ás vendas e ao lucro. Deveria tratar-se de amor à arte, e não amor ao dinheiro. Mas estas ideologias aplicam-se cada vez menos à nossa sociedade de consumo...
Porém, o "Guitar Hero" e os jogos que seguem a mesma "onda" têm algo de bom. Uma coisa que me deixa menos revoltado contra este jogo. E trata-se da divulgação de várias bandas, músicas e até correntes músicais. E isso aprofunda os conhecimentos músicais de vários indivíduos, dos jogadores. Porém, devo lembrar que as bandas incluídas neste jogo têm, normalmente, direito a apenas uma música no jogo. E é aqui que entra estupidez de muitos que, se lhes perguntar-mos se conhecem os Dragonforce, respondem desta forma: "Ah, sim, conheço a Through The Fire And Flames. É mesmo muito dificil de tocar no Guitar Hero...". Mas não conhecem mais nenhuma música da banda. A partir daí, são necessárias pesquizas para aprofundar os conhecimentos acerca da banda.
No entanto, devo admitir que já fui jogador de "Guitar Hero". Conheci várias bandas, artistas e músicas desta forma. Ou melhor, uma pequena parte das que conheço actualmente. Os meus conhecimentos devem-se ao meu interesse por esta arte, à pesquiza própria e, até, a recomendações de amigos e familiares. Porém, devo também avisar que o meu interesse no "Guitar Hero" acabou quando o meu pai me viu jogar este jogo e disse: "Olha, tu não gostavas de tocar guitarra a sério?". Coloquei o jogo na pausa e disse: "Adorava. Preferia-o mil vezes a isto". A razão que me levou a não ter considerado comprar e a aprender a tocar guitarra antes de adquirir o "Guitar Hero" era o facto de, de certa forma, ter desperdiçado a opurtunidade que tive quando tive aulas de piano durante 6 anos. Sentia que não me iam dar outra opurtunidade. Mas deram-ma. Coloquei o jogo de lado imediatamente e fui juntando dinheiro até ter o suficiênte para comprar a guitarra eléctrica que tenho agora e o amplificador (não muito tempo depois, ainda tive a sorte de ser presenteado com uma guitarra acústica...). Foi uma questão de escolha. E eu fiz a minha.



Quanto ao "Air Guitar", estamos perante outra enorme vergonha no legado deixado pela guitarra e pelos verdadeiros guitarristas. E esta vergonha até tem direito a um campeonato Mundial. E filme!
Antes de mais, vejam este vídeo:





E agora, o trailer do tal filme:




Como pode algo assim não ser ridículo? Não pode. Não há qualquer guitarra ali, a menos que seja invisivel (ou, como indica o nome, feita de ar). No Campeonato do Mundo de Air Guitar já foi oferecido, da parte de Brian May, guitarrista dos Queen, um amplificador como prémio. Mas qual é a razão para uma lenda do Rock se envolver em algo assim? Só se a resposta fôr mesmo... reputação!
Até o Gato Fedorento já fez um sketch acerca desta modalidade. Vejam:






A conclusão a que chego após escrever este artigo é muito simples: Se conseguia viver sem o "Guitar Hero" e o "Air Guitar"? Conseguia. Mas não conseguia viver sem a guitarra.

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